«D. João V […] tem boa figura, rosto comprido e é moreno como a maioria dos Portugueses. Usa grande cabeleira negra, empoada, e veste habitualmente com grande magnificência. Tive ensejo de o ver […] na capela real. Nessa ocasião cobria-lhe as vestes um longo manto de seda preta semeada de estrelas bordadas a ouro […]. Ama excessivamente a magnificência e a ostentação. Presentemente está a construir, numa alta e árida montanha chamada Mafra, um
palácio, uma igreja e um convento que custarão quantias fabulosas […]. Todos os anos chegam de Paris e doutras cidades as fotos mais ricas que ali se fazem […]. De trajes tem uma tão grande quantidade que não poderia usá-los todos, embora não vista cada um deles mais de três vezes. Em Londres vi uma peça de sua encomenda que bem revela o seu gosto pela magnificência. Era uma banheira de prata maciça dourada por dentro.»
In Lettres de Lisbonne, de César Saussure.
«Até para enobrecer as artes liberais, assistiu El-Rei às manufacturas de algumas. Mandou ir ao paço a nobre arte de impressão, fazendo na sua real presença compor os caracteres imprimir; e como conhecia que esta arte é instrumento das ciências, porque ao seu benefício se deve a conservação dos escritos, procurou muito que se adiantasse a sua perfeição. Sabendo pelo seu ministro, que residia em Paris, que naquela corte se tinha inventado um novo modo de imprimir, por cujos meios se prometiam muitas utilidades, de que se fazia autor Mons. Vermillon, mandou El-Rei, em 6 de Outubro de 1734, ao mesmo seu ministro, que feita a precisa averiguação, sobre serem elas verdadeiras, se comprasse o referido segredo, o que se não efectuou, porque não devia corresponder a conveniência da ideia ao encarecimento do invento. Viu também o modo como se fabrica a moeda, assistindo ao ensaio e cunho, e com a sua singular viveza fez todas as reflexões que só podiam caber na perícia dos mais destros operários.»
In Elogio Fúnebre e Histórico, de Francisco Xavier da Silva.